sexta-feira, 24 de julho de 2009

Meu querido "Barriga Cheia"

Esse é o pseudo-nome do Restaurante Popular mantido em algumas cidades do RN pelo governo do Estado. Oferece almoço de segunda a sexta-feira, no horário de 11:00h às 13:00h, pelo preço de R$ 1,00. Desde a semana passada "o Barriga", como o chamamos carinhosamente, está num prédio novo e eu fui almoçar lá ontem pela primeira vez.
Como estava sozinha, pude notar com mais detalhes as diferenças. Antes era num prédio mais antigo, anteriormente usado como salão de festas, coberto só em cima e onde almoçávamos era bem ventilado. Além do que, ficava abaixo do nível do rio que passa bem próximo, tanto que para chegar lá era preciso entrar numa rua de paralepípedos com declive e por conta disso, quando chovia muito e o rio enchia, alagava.

O prédio novo é um galpão, que não posso dizer ainda se fica muito quente porque ontem estava chovendo muito quando cheguei e enquanto almocei, tanto é que os rapazes que servem nem estavam muito suados. Ficava todo mundo expremido na entradinha, o maior vuco-vuco. Por falar em gente, esse é um bom exemplo de lugar democrático, pois se pode achar de todo tipo: pedinte, idoso, criança, vendedor, engraxate, estudante, dona de casa, mestranda :)... e todo dia as figurinhas carimbadas marcam presença. Tem até gente que faz amizade.

Enquanto eu tentava me esquivar da chuva um senhor gritou da fila de comprar a ficha:
- Bastião! Cadê meu real?
Ria tão alto que dava pra ver a saliva respingando, enquanto coçava o suvaco.
- Vai trabalhaaaar em vez de querê cumê às custa dos zoto, infiliz!
Riu Batião com os poucos dentes que tinha.
Também tem o velhinho que pede dinheiro:
- Pode sê 1 real, 5 ou 10, pode sê moeda pouca ou muita, pode sê no cartão ou no cheque e eu aceito pré-datado! Ajude o véi a completá o dinheiro do de cumê!
Fala bem assim, enquanto se arrasta no chão segurando uma bengala surrada. Esse é o mesmo que quando está almoçando pede laranja ou rapadura para quem senta ao lado.

Tem o pastor, que fica lendo a bíblia e pregando para o pessoal da mesa depois que almoça. O povo olha, tem os que gostam e participam, tem os que nem dão atenção e até os que discutem. O pobre do velhinho fica tão nervoso!

Agora, o corredor de controle da fila é com barras de alumínio em cima de suportes de ferro chumbados no chão, tão diferentes dos ferros descascados do outro prédio, os balcões são de granito (chique, Bein!), as mesas novas de fórmica, as cadeiras de plástico tão novinhas (ainda estão até com os adesivos da marca!) e bem melhores do que os bancos de madeira sem encosto que estávamos acostumados.

A pia de lavar as mãos fica no caminho das bandejas e de lá já dá para ver a cozinha com janela de vidro, o fogão industrial e as estufas. Só não olhei melhor porque me distraí com pena da mamãe segurando o bebezinho gripadinho, espirrava tantoooo.

É servida uma refeição completa nutricionalmente. Ontem, por exemplo, tinha feijão (adorei que não tinha cominho), arroz, frango assado, fígado ao molho, cuscuz, salada de repolho (eu já notei que a safra dura o ano inteirinhooo) com alface, suco de laranja e de sobremesa tinha goiabada. Inclusive a nutricionista estava lá ajudando a organizar a fila de forma que não ficasse ninguém tomando banho e chuva, numa dessas quando eu fui afastar quase derrubo os caroços de arroz do bigode do homem que estava numa mesa atrás de mim.

Os funcionários todos trabalham com o uniforme completo e todo branquinho composto de gorro, máscara, bata, calça, galocha, avental e luvas. Além disso, agora tem umas moças simpáticas arrumando as cadeiras das mesas que o pessoal vai saindo, uma delas até se ofereceu para levar a bandeja do senhorzinho que estava ao meu lado e como ele esqueceu de pegar o guardanapo que ela levou junto, acabou limpando o restinho de caldinho de feijão e cuscuz do cantinho da boca com a gola da camisa. Tadinho! Deve ter ficado com vergonha de pedir para ela voltar.

Lá também se tem respeito pelos idosos, eles não têm que enfrentar fila :) graças à Deus! Fiquei me botando no lugar da senhora que passou com as pernas fazendo nó de varizes, caso ela não pudesse ir pro início da fila.

No Barriga é todo dia a maior animação, muita gente que talvez não tivesse como se alimentar bem pode ter um almoço completo pela metade do valor de um salgado. Para quem não vai ter salário esse mês, está bom demais!

Hoje vai ser arroz, feijão, hambúrguer, peixe frito, pirão de peixe, salada (de repolho, claro!), suco e banana de sobremesa. Vamos?

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mentiras

Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades. Uma das mentiras: É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante. É muito simples: não podemos.

Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.

Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - eos maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida. Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes -aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro. Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro. É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos. Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver . Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão. Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria. Parabéns para quem consegue fingir tudo isso....

Danuza Leão













Ps: Recebi por e-mail da minha querida Auxilia, linda, inteligente e engraçada... que eu adoro! Achei muito interessante e já tinha pensado sobre isso aqui antes. Beijos e obrigada!